Raras são as reações sobre a imagem da cidade de Vitória. A capital mantém uma leitura tradicional, quase que adormecida já há algumas décadas. Poucas intervenções do Poder Público que de fato valorizem e venham modernizar a paisagem consolidada.
Um projeto importante no papel, a urbanização da orla Noroeste, via Concurso Nacional de projetos, pelo Instituto de arquitetos do Brasil, Departamento ES, outros se tornaram realidade, como a Orla de Camburi e o Tancredão, que trouxe um espaço valoroso para Santo Antônio. De resto algumas intervenções de menor porte e inúmeros estudos viários: pontes, túneis, viadutos, e uma série de estudos que correm de mãos atadas e que dificilmente se tornarão realidade.
No Estado, acontece uma coisa ou outra, aqui e acolá. Uma reurbanização incompleta do Canal de Guarapari e uma Rodovia Leste – oeste inacabada. E a obra da nova Rodovia do Contorno? O aeroporto está aí, mas deu uma canseira em todos nós. Pergunta: Será que sempre será assim? Essa pendura, esse motor 1.0, que não ganha torque e nem decola?
Eu como arquiteto urbanista, acredito no Poder de transformação do espaço via intervenções, acredito que a ideia do Cais das Artes é excelente, mas também que o espaço ficou grande demais, superlativo em vários sentidos. E no final das contas um nó sem tamanho, plantado ali na beira da Baía, sob a benção do Convento da Penha. As obras de infraestrutura da Avenida Leitão da Silva estão prontas, falta humanizar, falta paisagismo, mobiliário diferenciado e uma “cara” que valorize o lugar e minimize o sofrimento e a desesperança dos lojistas e usuários.
Mas tem coisa boa também, o projeto do Cais das Artes é de autoria do Paulo Mendes da Rocha, capixaba e o melhor arquiteto vivo do Brasil, a Baía está menos poluída, temos avistado mais tartarugas, mais baleias Jubarte. Além do mais, são nossos oarquipélago de Trindade e Martim Vaz, uma joia da Coroa. E há o que ser feito, valorizado, A Ilha da Fumaça é um exemplo.
De volta, acredito mesmo é em uma proposta de circulação integrada e conectada, em rede como se diz. Reforço a qualidade do transporte de carga média,o VLT, que poderia nascer no Centro de Vitória, sobre a Baía e se estender ao longo da orla até Jardim Camburi, com pontos de integração para os bairros: bicicletários, patinetes dos aplicativos e calçadas seguras proporcionariam a fluidez. Um percurso circular do VLT poderia até passar pelo aeroporto, e fazer o anel pela UFES passandopela Avenida Leitão da Silva, chegando ao Hortomercado e seguindo pela orla novamente. Nessa proposta, não se excluem as conecxõesde barco até Vila Velha e Cariacica. A cereja do bolo: uma adequação do Teatro do Cais da Artes para abrigar um Aquário, uma âncora de visitação constante e que fortaleça o turismo de uma vez por todas.
Ambiente não falta, o teatro está apoiado sobre a baía, requer equipamentos, mas já temos outros exemplos no país, e o Museu poderia se tornar o “Museu do Atlântico”, com exposições e pesquisas sobre o Mar. Um verdadeiro salto de qualidade na imagem da Cidade de Vitória e mesmo do Estado. Basta pensar melhor, nós arquitetos urbanistas estamos aqui para isso.
Eduardo Pasquinelli Rocio / Arquiteto urbanista
Vice-presidente do IAB -ES e Conselheiro Federal do CAUBR pelo ES