A revitalização do Centro de Vitória tem sido objeto de discussão ao longo das últimas décadas. Muitos debates, algumas ações públicas nos níveis Estadual e Municipal, mas o esvaziamento e a perda da importância comercial daquela região são gritantes.
O conjunto arquitetônico do Centro apresenta ainda dois imóveis do século XVI, onde encontramos a sede da superintendência do IPHAN e próximo dali a Capela de Santa Luzia. Essa Capela foi o primeiro edifício construído na Ilha. Outros exemplares dos séculos XVII e XVIII de cunho religioso são joias da arquitetura colonial Brasileira, como por exemplo a Igreja de Nossa Senhora do Rosário dos Pretos, Igreja de São Gonçalo e Convento de São Francisco. Outros exemplos da arquitetura colonial foram adequados ao longo do tempo com reformas com “roupagem” em estilo neogótico e eclético, como é o caso do Convento do Carmo e da Catedral.
Temos hoje um processo consolidado de transformação física das construções do Brasil Colônia para os demais períodos até os dias atuais. Importante afirmar que o Centro de Vitória já foi objeto de estudo de especialistas no patrimônio e que o entendimento é de que o traçado das vias tem sua origem no início da ocupação urbana da capital. As construções coloniais, com tipologia de lotes com pequenas testadas e profundidade maior são exemplos raros, às vezes perceptíveis em algum estacionamento da Cidade Alta. As constantes transformações nos apresentam outros exemplares de qualidade do ecletismo, como é o caso do Palácio Anchieta, da Escola Maria Ortiz, prédio da antiga Assembleia, do Teatro Carlos Gomes e do Teatro Glória. Da arquitetura eclética ainda temos exemplares belíssimos como o casario da Rua Marques de Azevedo, no entorno do Parque Moscoso.
Remetendo ao Parque Moscoso, temos exemplares da arquitetura Moderna como a famosa Concha Acústica e o atual Escola da Ciência-Física, originalmente, Jardim de Infância Ernestina Pessoa, projetada pelo arquiteto Francisco Bolonha. Nessa edificação, temos uma belíssima composição de fachada com cobogó cerâmico e painel em vidrotil. Enfim, são inúmeros exemplares de técnicas apuradas no trato das composições volumétricas, do tratamento dos muros em pedra e principalmente da escala humana.
Acredito que esse tenha sido a maior dificuldade em retomar a valorização do Centro. Muitos dos prédios construídos a partir de 1960 iniciaram o processo de desconfiguração do Centro. São prédios que ocupam o máximo dos terrenos e com gabarito fora do contexto. Com o adensamento urbano crescente e com o crescimento dos municípios vizinhos, o Centro se consolida como local de passagem, com a inevitável perda da imagem refinada e por fim da qualidade de vida. Os esforços do governo do Estado em ocupar os edifícios públicos, como o restauro do Teatro Carlos Gomes, e da prefeitura sobre Mercado da Capixaba são uma luz daqui para frente. São exemplos da vocação artística-cultural daquele lugar. Possivelmente um dos caminhos será resgatar a escala perdida. Deve ser considerado como resgate, a retirada do asfalto das vias e a permanência do piso em paralelepípedo, a demolição de alguns imóveis vazios. Em paralelo, será fundamental o estímulo aos novos meios de transporte público. Ações integradas que possam criar uma ambiência mais acolhedora, em especial na Cidade Alta.